sexta-feira, abril 27, 2007

Fresh Air (IndieLisboa)

Título Original: Fresh Air
Realização: Ágnes Kocsis
Argumento: Ágnes Kocsis / Andrea Roberti
Género: Ficção / Drama

Ano: 2006
Origem: Hungria
Elenco: Juli Nyakó; Izabella Hegyi; Anita Turóczi; Zoltán Kiss



Da Hungria chega-nos uma família monoparental. Viola, a mãe, trabalha na casa de banho do metropolitano. Veste-se sempre de vermelho. Ou melhor, o vermelho é presença obrigatória na sua vida. É uma funcionária exemplar. Procura o homem ideal. Actua de forma rotineira, dia após dia. Podemos descrevê-la como um robot. Chegamos a pensar que Viola não tem alma. Uma vez que já nem possui fé.
Angéla, a filha, tem 19 anos. Estuda moda. Quer ser designer. É idealista em relação ao futuro. Deseja o ar fresco italiano. É incompreendida entre pares. Na escola chegam a gozar com ela. Na memória fica a cena "O que temos hoje, aqui? Versace?!". O verde está incorporado no seu universo. As roupas são verdes. O seu espaço é decorado de verde. E até as "criações" são verdes.
O verde é a esperança. Cor que contrasta com o vermelho. Vermelho, esse, que Viola faz tanta questão de usar. Mas em Fresh Air o contraste das cores serve para elucidar o conflito das personagens. Enquanto Angéla vive na esperança e aspira ao glamour (atenção às tiras de lantejoulas que decoram as suas roupas). Viola já a perdeu [esperança]. Vive, então, confinada naquela que é a cor do sangue e do pecado. Limita-se a viver o presente.
Mãe e filha são, na verdade, meras estranhas. Co-habitam num espaço que é divido em dois: o da mãe e o da filha. No ouvido fica a pergunta que podia ser mais catchy. "Já comeste hoje?", pronunciada várias vezes por Viola. A que Angéla responde "não".
Nesta obra de Ágnes Kocsis o título, Fresh Air, é muito mais que um mero título. É este que une as personagens. Viola trabalha numa casa de banho. Vive à margem da sociedade. Conhece o "ar fresco" de cada ambientador. No fundo procura um ar melhor, para a sua vida. Angéla aparece frequentemente sentada no parapeito da janela. Respira o ar fresco da noite. Precisa dele. É o seu refúgio.
Planos longos. Planos mais curtos. Um vermelho à la Almodóvar, num filme pautado por silêncios. A banda sonora aparece em vez das falas. Cumprindo em pleno a sua missão. Um final reconciliador entre cores e, quem sabe, entendimentos.
No ouvido:
"But I'm just a soul whose intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood" (The Animals)

domingo, abril 15, 2007

Premonição (2007)



Título Original: Premonition


Realização: Mennan Yapo


Argumento: Bill Kelly


Género: Drama/Fantasia/Mistério/Thriller


Elenco: Sandra Bullock, Julian McMahon








Sinopse:

Uma vida perfeita. O marido perfeito. A familia perfeita. O que pode agitar este cenário?

Linda Hanson (Sandra Bullock) vê a sua vida perfeita ser asolada por pesadelos. Até aqui cliché. No entanto, esses pesadelos são bem reais. Um dia acorda e recebe a notícia que o marido (Julian McMahon) faleceu. No dia seguinte acorda e ele está no banho. Volta a acordar, noutro dia, e ele está novamente morto.

Trata-se de um pesadelo ou algo mais?


Análise:

Premonição apresenta-nos uma filmagem esclarecedora. Ora centrada no detalhe ou no estado de espírito da protagonista.

O grande problema ou virtude deste filme, cabe ao espectador decidir, é o argumento. Andas às reviravoltas numa fase inicial. Acaba, posteriormente, por definir o seu rumo.

Toda a narrativa é possivel de ser explicada através do mito de Édipo.

A maldição lançada à família dos Labdácidas. "Lai se tiveres um filho. Ele matar-te-á e casará com a mãe". Assim que o bebé (Édipo) nasceu, foi mandado abandonar. O pastor que levava Édipo não quis matá-lo, nem abandoná-lo. Encontrou um mensageiro e entregou-o. Édipo foi criado pelo mensageiro.

Uma noite numa festa, um bebado disse a Édipo "Tu és o suposto filho do Rei". Mais tarde Édipo, desnorteado, encontra uns homens e furioso acaba por matar quatro deles. Continua a andar e chega a uma cidade próxima de Tebas. Depara-se com a Esfínge, um monstro, que lhe faz uma pergunta: "Qual é o animal que de manhã anda de quatro patas, à tarde de duas e à noite com três?"

Édipo decifrou o enigma. A esfínge não resistiu. O povo de Tebas considerou-o libertador. A rainha estava disponível. Fizeram-no Rei e casaram-o com Jucasta.

Mais tarde Apolo envia uma Peste pata Tebas. Qual o argumento? Há uma mancha na cidade. Ainda não foi punido o assassínio do Rei.

O Mensageiro contou depois toda a história a Édipo. Jucasta teve a intuição que tinha casado com o filho e enforcou-se. Édipo furou os olhos.


Qual o porquê de transcrever toda esta história para falar da Premonição, interpretada por Sandra Bullock?

Os pais de Édipo foram confrontados com o destino. Quiseram alterá-lo. O que é que se verificou de seguida?

O mesmo tentou fazer Sandra Bullock, ao longo de 1 hora e 45 minutos de filme.

O filme tinha uma mensagem a comunicar e conseguiu passá-la. Esta é, claramente, uma obra de relances. Com um objectivo ambicioso. Se resultou na perfeição? Nem por isso. Falhou redondamente? Também não.

As filmagens repetidas surgem no intuito de transmitir um dejá-vu.

Requer alguma ginástica mental. Fique atento aos pormenores. Roupa, rotinas e o sitio onde estão determinados objectos.

Uma narrativa sustentada por arquétipos. Uma mensagem de esperança.

"It's Never Too Late"

Classificação:

7/10