segunda-feira, novembro 05, 2007

Sicko (2007)




Para si, qual dos seguintes sistemas de saúde é o melhor: o Português ou o Norte-Americano?


Tendo em conta o profundo desagrado generalizado do povo Português face ao sistema nacional de saúde, posso certamente apostar que irá optar pela segunda parte da resposta. Contudo, Michael Moore acaba por nos mostrar que afinal… até não estamos assim tão mal.


É através de Sicko, o seu mais recente documentário, que opta por fazer uma viagem por vários sistemas nacionais de saúde. Tudo isto porque o governo Norte-Americano defende o sistema Nacional de Saúde como um dos maiores males à face da terra. Assim, nos Estados Unidos a saúde é tratada através da iniciativa privada. Os cidadãos são obrigados a fazer seguros de saúde. O problema consiste no facto de as seguradoras olharem, cada vez mais, para os utentes como uma despesa/preço elevado e não como doentes, cuja vida está em risco.


Os tratamentos são negados e carimbados como “experimentais”. Quais as opções que restam? 1) Pagar o tratamento do próprio bolso; 2) Deixar-se morrer; 3) Ir para outro país, em busca de tratamento.


Michael Moore, realizador de Bowling for Columbine e Fahrenheit 9/11, visita os sistemas nacionais de saúde de países como Canadá, França, Inglaterra e Cuba. Recorre a histórias de Americanos defraudados pelos seguros de saúde para mostrar o benefício de um sistema nacional de saúde. Uma proposta de Richard Nixon e desenvolvida por Hilary Clinton. No entanto, esta luta acabou por cair por terra uma vez que o Governo tinha um preço que as seguradoras de saúde podiam pagar.

Realização e Argumento: Michael Moore
Género: Documentário





Classificação:
8/10

domingo, novembro 04, 2007

Corrupção (2007)



Consiste na adaptação livre de “Eu, Carolina” o livro publicado por Carolina Salgado, ex-Pinto da Costa, em finais de 2006.

O livro caiu que nem bomba nas estantes das livrarias e dos supermercados. E desde que a imprensa noticiou o surgimento do filme, este tem sido um tema recorrente no tratamento jornalístico.

Corrupção pretende expor o lado negro do mundo do futebol (nacional). Parte do pressuposto de que todos os que entram na sala de cinema já conhecem a história. Limita-se, então, a escolher cenas do livro e a passá-las para o ecrã, nem sempre com exactidão.

Este é um filme corrompido. Falta-lhe uma linha narrativa e a assinatura de um realizador. Está cheio de raccords e problemas de iluminação. Para além de a direcção de actores não ter sido a melhor, nomeadamente no caso de Margarida Vila-Nova. A actriz que protagoniza Sofia (Carolina Sofia Salgado) não despiu a pele de Maria Laurinda (uma personagem do pequeno ecrã). Um erro crasso. Aparece artificial e odiável.

É uma obra estereotipada. Pega na imagem que todos já temos dos protagonistas (que pode nem ser a exacta) e mantém-na. Não procura mostrar o lado humano das coisas.

Padece igualmente de problemas de iluminação e de filmagem. Nomeadamente, os planos parados. A câmara é colocada num sítio e a cena é filmada a partir dali. Não há movimento. Não há acção. Não é possível transportar o espectador para a trama.

É um filme frio e distante. Não consegue captar o espectador devido à sua superficialidade. Os diálogos não parecem reais. O real surge na palavra apenas quando é tomada por Nicolau Breyner.

IN: Nicolau Breyner e António Pedro Cerdeira
OUT: Margarida Vila-Nova e a livre-adaptação feita ao livro

Realização: Utopia Filmes
Argumento: João Botelho e Leonor Pinhão
Género: Drama
Elenco: Nicolau Breyner, António-Pedro Cerdeira, Margarida Vila-Nova

Classificação:

1/10

sexta-feira, setembro 07, 2007

MOTELx - ABERTURA COM FORTES GARGALHADAS



Um novo festival de cinema invadiu a cidade de Lisboa. Tem o nome de MOTELx (Motel de Lisboa) e veio prometer muitos sustos durante cinco dias. Com duração de 5 a 9 de Setembro no Cinema São Jorge, a noite da abertura ficou marcada por gargalhadas em vez de gritos.


O Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa (MOTELx) consiste numa mostra de cinema subordinada a um género da 7.ª Arte, por sinal, o mais temido de todos, o Terror. Apresenta-se como um festival diferente, por ser não competitivo. Pretende mostrar o melhor do cinema de Terror, em todas as suas variantes.


Com direcção a cargo de Pedro Souto, João Monteiro e João Viana. O MOTELx assume-se como uma nova vertente do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo Cineclube de Terror de Lisboa (CTLx). Este tem vindo a promover a exibição de filmes de Terror contemporâneos provenientes de vários países, e ignorados pela distribuição comercial.


Risos em tempo de Terror


O arranque do certame foi feito com uma grande expectativa por parte do público. Muitos foram os que acorreram ao Cinema São Jorge, mítico espaço cinematográfico na cidade de Lisboa, por amor ao Terror ou à sétima-arte.


Para a ‘grande noite’ a organização decidiu contemplar a curta-metragem “Sangue sobre Vermelho” do português Pedro Baptista e o documentário “The American Nightmare” (O Pesadelo Americano).


Um pai (João Urbano), uma avó (Urbana Conceição Jesus), uma menina – a Mariana (Ana Raquel Ramos) e um caçador (António Garcia) são os personagens da história de abertura do certame. “Sangue sobre Vermelho”, com apenas 12 minutos de duração, desapontou os espectadores devido ao fraco argumento e à duvidosa interpretação por parte do elenco. Mostra-nos uma família humilde numa casa algures numa aldeia de Portugal.


Uma espécie de ‘capuchinho vermelho’ transtornado e com inversão narrativa. O lobo era o pai e Mariana o caçador. Mas, nem só de coisas más é feita a curta de Baptista. Sangue sobre Vermelho é excelente na direcção de fotografia (a cargo de Rui Poças) e técnicas de filmagem/montagem (Pedro Baptista) e terrível nos efeitos visuais, argumento e interpretações.


Do que é feito o ‘Pesadelo’?


Adam Simon apresenta num documentário de 73 minutos, “The American Nightmare”, a origem do Terror. Mestres como George Romero, Wes Craven, Tom Savini, Tobe Hooper, David Cronenberg e John Carpenter relatam o que os levou a fazer Terror.


O surgimento de filmes de Terror dá-se com a influência social. O Terror existe no mundo real através das guerras. Há assassinatos macabros, por isso, aquilo que é transposto para o grande ecrã pelos mestres do Terror não é uma coisa tão surreal.
“The American Nightmare” é um documentário extremamente interessante, mas simultaneamente confuso na forma como os vários testemunhos surgem ligados.
Os sustos que vão vir…


Cinco dias de horror marcados por exibições, exposições (ilustração e fotografia), concertos ao vivo, lançamento de livros (Contos de Terror do Homem-Peixe), workshops, conversas e debates na primeira-pessoa com os realizadores convidados e o prolongamento da noite com as festividades programadas no âmbito do festival.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Ratatui (2007)



Título Original: Ratatouille
Realizador: Brad Bird
Argumento: Brad Bird
Género: Animação
Elenco: Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Peter O’Toole, Janeane Garofalo

Já é sabido que na animação tudo é possível. Mas, já tinha colocado a hipótese de as ratazanas cozinharem divinalmente? Bem… a Pixar não só imaginou, como concretizou o que era hipotético.


Remy é um pequeno rato que habita com a sua família nos esgotos Parisienses. O apurado olfacto de Remy fez com que se distinguisse, sempre, dos restantes ratos. Através do cheiro era capaz de detectar todos os ingredientes da comida. Desta forma conseguia evitar que algum membro do “clã” ingerisse comida envenenada.


As tardes passadas a assistir aos programas de culinária do chef Gusteau, provocaram nele o desejo de se transformar num chef de cuisine. Amante de boa comida e de paladar refinado, a vida no esgoto não era para ele. De forma a demarcar-se dos restantes ratos, Remy era devoto do bipedismo.


Um incidente acabou por separar Remy do clã. Só e influenciado pelo espírito do conhecido chef, acabou por interiorizar a velha máxima do mestre “Todos podem cozinhar”.


Ratatouille é um filme bastante original na forma como expõe a sua mensagem. Uma história de sonhos e amizade, com muita comida à mistura. Se a mensagem é “vulgar” o mesmo não se pode dizer do cenário: ratos, esgotos, Paris e restaurantes de cinco estrelas. De mestria em técnicos, tal como a Pixar nos tem vindo a habituar nas suas obras. O argumento está bem construído e o público acaba por se encantar com o pequeno rato.


Um restaurante romântico, dirigido por um rato, numa das cidades mais retratadas pela sétima-arte.


A mais recente obra de Brad Bird assumiu no início da passada semana o lugar de 14.º filme mais rentável de sempre nos E.U.A.


Classificação:
10/10
*****


domingo, agosto 12, 2007

Paranóia (2007)


Título Original: Disturbia
Realização: D. J. Caruso
Argumento: Christopher B. Landon, Cark Ellsworth
Género: Thriller
Elenco: Shia LaBeuf, Sarah Roemer, Carrie-Anne Moss, David Morse

“Thriller at THE END”

Kale (Shia LaBeuf) é um adolescente normal. Gosta de música, vai à escola, lê livros e tem uma boa relação com os pais. No entanto, por vezes um instante pode mudar toda uma vida. Após a morte do pai os sentimentos de perda e culpa vão debater-se sobre o seu espírito. Deixa de ser visto como um jovem saudável e ganha um ar perturbado.


Aquando a prisão domiciliária a que é sujeito, sem nada para fazer, Kale ganha um novo hobbie… observar a vida real através das janelas da sua casa. Os actores são os seus vizinhos. Cidadãos anónimos e com vidas normais. O cativeiro não é fácil. No entanto, torna-se muito pior a partir do momento em que passa a suspeitar de que o seu vizinho do lado é um serial killer.


Mr. Turner, o vizinho do lado, corta a relva duas vezes por dia, dia após dia. Leva uma vida aparentemente pacata. No entanto, esta não é suficiente para que Kale deixe as suas suspeitas caírem por terra.


Com a ajuda de Ashley (Sarah Roemer), a recém-chegada ao bairro, e de um amigo, Kale dá início à investigação. Realidade ou ficção? Tal como o título sugere, esta suspeita pode não passar de uma paranóia. Lembre-se que Kale perdeu o pai há pouco tempo e que se encontra fechado na sua própria casa sob prisão domiciliária.


Paranóia não deixa de ser um bom filme. Tem uma boa fotografia, é divertido, os personagens são cultos (coisa pouco habitual em filmes deste género) e os actores têm um bom desempenho. O problema reside na acção. Trata-se de um filme parado e romanceado submerso no Mac(intosh) World. É, de facto, um thriller somente no final. Ou seja, se espera um filme cheio de emoção… veja apenas a segunda parte do filme. No entanto, a narrativa está bem construída. Uma vez que ganhamos afecto pelas personagens e torcemos por elas ao até ao final.


Destaque: O talento de Shia LaBeouf (Transformers) e o ressurgimento de Carrie-Anne Moss (Matrix).


Classificação:
7/10




quarta-feira, agosto 01, 2007

Os Simpsons - O Filme (2007)


Título Original: The Simpsons Movie
Realização: David Silverman
Argumento: Matt Groening, James L. Brooks
Género: Animação
Vozes: Dan Castellanata, Julie Kavner, Nancy Cartwright, Yardley Smith, Hank Hazaria, Harry Shearer

A família mais carismática da televisão chegou agora ao grande ecrã. Eles são Homer, Bart, Marge, Lisa e Maggie. Fazem parte da nossa vida há 18 anos, contudo, os anos parecem não passar por eles. No ar há 18 temporadas, os Simpsons são a sitcom mais antiga dos EUA e uma das mais mundialmente difundidas.

Homer é patriarca da família. Tem quatro perdições: cerveja, comida, donuts e ver televisão sentado no celebre sofá da família Simpson.


Bart é o rapaz da família. Preguiçoso e rebelde, é a personagem mais carismática da série. Não gosta da escola e um dos seus passatempos preferidos é meter-se com o Director Semour Skinner, Director da Escola Primária de Springfield.


Marge Simpson é a perfeita dona de casa. Trata do marido e dos filhos com uma grande devoção. Para trás ficou o sonho de se tornar uma grande artista.


Lisa é a jovem sobredotada. Toca saxofone, é vegetariana e converteu-se ao budismo. Doce, inocente e inteligente funciona muitas vezes como a consciência não só da família como de toda a Springfield.


Maggie é a eterna bebé. Não fala, gatinha e o bibe azul claro seguido da sua chucha são a sua imagem de marca.


Após esta apresentação da família mais famosa de Springfield chegou a vez de falar do filme que acabou de invadir as salas de cinema. Neste é dado um principal destaque ao já habitual conflito Simpsons-Flanders. No entanto, os problemas ambientais (actualmente muito em voga no mundo cinematográfico) surgem como pano de fundo.


Este é sem sombra de dúvida um dos filmes mais esperados do ano. A sua estreia foi antecedida por uma mega operação de marketing lá para as terras do tio Sam, onde a cadeia de supermercados Kwik-e-mart (celebrizada na série pela personagem do imigrante Indiano Apu) recreou um pedaço de Springfield em todos os seus supermercados, com os funcionários vestidos de Apu e muito merchandising do filme. Por ser um dos filmes mais aguardados, a audiência já começava a preparar-se para uma possível desilusão. Não foi o que aconteceu. The Simpsons Movie consegue ter piada e passar mensagens importantes. Para além da mensagem ambiental que já fora mencionada, o filme mostra que por vezes o melhor pai não é o que faz todas as vontades ao filho, mas sim aquele que demonstra preocupação e manifesta carinho.


Para todos os males, há sempre um bem. É esta a função de Homer Simpson no filme. Este é o filme ideal para o começo de férias.

Classificação:
8/10


quarta-feira, julho 25, 2007

Estreia já amanhã...


A crítica... em breve!

Harry Potter e a Ordem da Fénix (2007)


Título Original: Harry Potter and the Order of the Phoenix
Realizador: David Yates
Argumento: J. K. Rowling, Michael Goldenberg
Género: Aventura, Fantasia
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Ralph Fiennes, Imelda Staunton, Alan Rickman, Emma Thompson, Helena Bonham Carter

Harry Potter e o Cálice de Fogo (a anterior episódio da saga) ficou marcado pelo regresso daquele cujo nome não deve ser pronunciado.


Nesta nova aventura o Bem, representado pela Ordem da Fénix, tenta derrotar o Mal sustentado pelos Devoradores da Morte que são, por sua vez, liderados pelo temível feiticeiro Voldemort.


Hogwarts, a Escola de Feitiçaria, sofre com as decisões do Ministério da Magia, que é por sinal, um Ministério-fantoche. Cornelius Fudge, Ministro da Magia, afirma a pés juntos que o regresso de Voldemort não passa de uma invenção de Harry Potter e Albus Dumbledore (o Director de Hogwarts). O Ministro alia-se ao Daily Prophet, o diário mais lido entre os feiticeiros, para veicular as suas teorias e decisões.


É de louvar que o trabalho de David Yates seja tão fiel à obra de J.K. Rowling. À medida que os livros se tornam mais negros, o mesmo acontece com os filmes e aos poucos as Trevas invadem os ecrãs. As salas de cinema são preenchidas por um público etariamente diversificado.


Harry Potter e a Ordem da Fénix é excelente em termos de efeitos visuais. Destaque para as interpretações de três actrizes Imelda Staunton (como Dolores Umbridge), Emma Thompson (Professora Trelawney) e Helena Bonham Carter, na pele da louca e temível feiticeira Bellatrix Lestrange.


Uma campanha de lançamento bem engendrada, uma vez que poucos dias após o lançamento do filme, se deu o lançamento do último livro.


Classificação:

8/10

quinta-feira, julho 19, 2007

Lars Von Trier



Lars Von Trier é um realizador Dinamaquês com destaque no mundo do cinema. Actualmente com 51 anos, é tido como o realizador mais ambicioso e visualmente distinto desde Carl Theodor Dreyer (Dinamarquês).


Estudou na Danish Film School e ajudou a fundar o Dogma 95, composto por um grupo de cineastas que acordou fazer apenas filmes respeitando uma série de regras, entre elas o uso de câmaras ao ombro, o não recurso a cenários e a banda sonora.


As suas obras mais conhecidas são Os Idiotas (1998), Dancer in the Dark (2000) e Dogville (2003). Foi com esta última que deu início à sua trilogia Americana. Esta trilogia conta actualmente apenas com dois tomos: Dogville e Manderlay (recentemente editado em DVD pela FNAC). A obra Wasinghton vai marcar o fecho da trilogia que teima em apontar os defeitos da America. Von Trier foi também o argumentista de Querida Wendy, actualmente em exibição nas salas Portuguesas.


Lars Von Trier é um realizador que esgota as actrizes. Nicole Kidman, a estrela de Dogville, recusou-se a fazer os restantes filmes da trilogia e Bjork (Dancer in the Dark) anunciou que não irá voltar a trabalhar com o realizador.


Para este ano ficou prometido o seu filme de terror Anticristo, o qual narra a criação da Terra por Satanás, em vez de Cristo. No entanto, aquando a edição do Festival de Cannes deste ano o realizador anunciou que sofre de uma depressão. Há rumores que anunciam a saída de Lars Von Trier do mundo da sétima-arte.

quinta-feira, julho 05, 2007

A Trilogia da Morte - Gus Van Sant





Gus Van Sant é natural de Kentucky (EUA), completa 55 anos no próximo dia 24 e é um dos grandes nomes do cinema independente. Realizador de filmes com uma imagem única e argumentos marginais, onde o silêncio acaba por imperar. As suas obras são tidas como referência entre os cinéfilos. Paranoid Park, o seu mais recente trabalho, foi aplaudido pela crítica na última edição do Festival de Cannes e recebeu o Prémio do 60.º Aniversário, como forma de homenagear o trabalho desenvolvido pelo realizador no decorrer da sua carreira. A trilogia da morte é o nome dado ao conjunto de três obras de Gus Van Sant: Gerry (2002), Elephant (2003) e Last Days (2005). Cada um destes filmes tem uma vida própria. Uma vez que cada filme tem a sua história, personagens e protagonistas. Contudo, se juntarmos estas três obras conseguimos três diferentes visões da morte.

Gerry (2002)




Argumento: Casey Affleck, Matt Damon, Gus Van Sant
Género: Drama
Elenco: Casey Affleck, Matt Damon

Dois amigos, ambos de nome Gerry, param o carro no meio da estrada e começam a caminhar na direcção das montanhas. Em determinado momento alteram a rota e acabam por se perder.
A filmagem de Van Sant leva-nos ao local. Perdemo-nos juntamente com os Gerrys. Os primeiros dias são preenchidos pela esperança. Nenhum deles pensa na morte. O plano é sempre o mesmo: reconhecer as montanhas (assim como outros rochedos) e encontrar o caminho para o carro. O tempo passa e a morte acaba por desabar sobre a esperança.
Boa filmagem e captação de áudio. Aqui a morte é acidental, sendo a acção suportada pela existência de diálogos. Este é, porventura, o filme que tem mais diálogos na Trilogia da Morte. No entanto, o silêncio entre os dois amigos consegue favorecer a história, ao dar-lhe um tom de autenticidade.

Elephant (2003)



Argumento: Gus Van Sant
Género: Drama
Elenco: Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson

Nada mais banal que um vulgar dia de aulas, com a “pequena” excepção de não o ser!
Um violente incidente perturba os alunos e professores de um liceu em Portland, Oregon (EUA).
Um filme espectacular, premiado (Festival de Cannes 2003: Palma de Ouro e Melhor Realizador), que nos remete para aquilo que o liceu representa para os jovens, o que passa pela cabeça destes, elucidando-nos cada vez mais do facto de todos sermos diferentes e iguais ao mesmo tempo, passando pelo massacre no liceu do Columbine, já conhecido por vós, através do documentário de Michael Moore- Bowling for Columbine. Van Sant, consegue através da sua câmara, mostrar que todos aqueles jovens não passavam de fantasmas naquele liceu (psicologicamente já estavam todos mortos, os tiros foram apenas a consumação do acto).
Este é um filme intenso, em que o silêncio e o cenário de um liceu vazio e ténue nos remetem para uma inevitável tragédia.
Absolutamente genial, original, magnífico, prende o espectador do primeiro ao último segundo!

Last Days (2005)

Argumento: Gus Van Sant
Género: Drama
Elenco: Michael Pitt, Lukas Haas


Surge Last Days e num circundante esplendor dá-se o desfecho da trilogia, através da exploração do factor música/som como complemento e suporte para todo o desenlace do enredo. Este, é mais importante que o factor diálogo (quase inexistente), provocando ira, cólera, amargura e a sede do “doce” beijo da morte. Last Days, é muito mais que um mero biopic. Baseado nos derradeiros dias do líder exímio dos Nirvana (Kurt Cobain), Van Sant apresenta-nos Blake (Michael Pitt), o símbolo de uma geração que se apresenta “só” numa casa “cheia”, perdido num labirinto que é consequência e cliché do mundo da fama. Blake apresenta-se moribundo, já morto (a nível psicológico e espiritual), inerte numa casa impessoal e caótica, onde todos podiam entrar e desfrutar dos seus prazeres. A forma como Blake é filmado ao longo do filme, quase sempre de costas, elucida-nos da sua posição para com o mundo. O plano em que o telefone toca e Blake continua a sua rotina, é a melhor mise-en-scéne disso mesmo.É no seu secret secret spot, tão perto e ao mesmo tempo tão longe da sua casa, que Blake encontra o seu EU. Falamos da pool-house, da floresta e momentaneamente a sala de música, onde apenas se limita a viver, a expressar os seus medos e a sua raiva, sem ser confrontado. Last days, é mais que um inspirado reviver dos últimos dias de Cobain, que um labirinto cliché e obligatoire para todos aqueles que pisam o passeio da fama do Rock. Este é o fechar de um ciclo que tanto pertence a Cobain, a Blake, como ao mais comum dos mortais. Sendo o seu fecho, a soberba cena da morte de Blake. Brilhantemente captada por Van Sant e clímax do filme.

quarta-feira, junho 27, 2007

Paris, je t'aime (2006)




Paris, je t’aime é um conjunto de 18 curtas-metragens escritas e realizadas por grandes nomes na área da realização. No fundo são 18 romances de bairro, bem realizados e interpretados. Cada curta-metragem vale por si só. No entanto, a curta duração imposta a cada curta-metragem faz com que muitas fiquem incompletas.

Destaques: Montmatre, Quais de Seine, Loin du 16ème, Bastille, Place des Victoires, Tour Eiffel, Place des Fêtes, Père Lachaise, Faubourg Saint Denis, Quartier Latin.

Breve análise de cada curta-metragem:

Montmatre – Realização e argumento: Bruno Podalydès

O drama do estacionamento em Paris. As mulheres que já não estão disponíveis para amar. Um monólogo que vai das coisas mais simples às mais profundas, sem nunca se tornar entediante. Boa iluminação e fotografia.

Quais de Seine – Realização e Argumento:
Gurinder Chadha


O impacto do primeiro olhar. A paixão não escolhe credos ou nacionalidades.

Le Marais – Realização e Argumento: Gus Van Sant


A língua é uma barreira que pode ser superada. O amor não escolhe sexos e por vezes o primeiro olhar tem um sentido bem mais profundo, que um mero olhar.

Tuileries – Realização e Argumento: Joel e Ethan Coen



Ao visitar uma cidade que não conhece (sobretudo se viaja para o estrangeiro) a tendência é comprar um guia de viagem. Um pequeno livro com explicações históricas, mapas, sugestões e glossário.
Pois bem, nesta curta-metragem o turista encontra-se no metropolitano das Tuileries. Abre o guia e tenta encontrar algo que corresponda à descrição que o livro faz.
À volta de um huge misunderstanding surge a paixão e o ciúme. Um acaso do momento. Já agora, haverá algum código de conduta para quando utiliza o Metro?

Loin du 16ème – Realização e Argumento: Walter Salles e Daniela Thomas



O amor de uma jovem mãe emigrante pelo seu bebé. Logo pela manhã deixa-o com enorme angústia na creche. No trabalho, depara-se com uma mãe que não tem nada a ver consigo. Que abandona o seu bebé durante horas. Acaba, ainda, por prolongar o horário de trabalho da jovem mãe. A saudade aperta ainda mais. A falta preenche a alma. A filmagem em movimento transporta-nos para o local. Assistimos e vivemos a situação.

Porte de Choisy – Realização e Argumento: Christopher Doyle



A curta-metragem mais estranha. É também onde o sentimento [amor] se encontra mais diluído. Uma dona de um cabeleireiro recebe o vendedor de produtos capilares com artes marciais. Momentos mais tarde rende-se aos seus encantos. Ou melhor, aos encantos dos seus produtos.

Bastille – Realização e Argumento: Isabel Coixet

Em narração. Je ne t’aime plus. Je t’aime. Oublie moi.
Um homem divide-se entre duas mulheres. O destino encarrega-se de lhe indicar o caminho.

Place des Victores – Realização e Argumento: Nobuhiro Suwa

O desespero de uma mãe que perde um filho. A perda é difícil de ser superada. A transcendência do sonho leva-a até ele. O sonho acaba. Volta a realidade. Boa escolha do local, tendo em conta o desenrolar da história. A curta-metragem que mais apela ao sentimento.

Tour Eiffel – Realização e Argumento: Sylvian Chomet



O quotidiano é-nos dado através de um Mimo. Excelente interpretação. Originalidade do argumento. Uma história de amor que começa num incidente.

Parc Monceau – Realização e Argumento: Alfonso Cuaron



Encontros escondidos. Vidas roubadas por consequência dos encontros de outros tempos. Vidas recuperadas pelos encontros dos tempos que correm. Uma curta-metragem incompleta.

Quartier des Enfants Rouges – Realização e Argumento: Olivier Assayas

Maggie Gyllenhall como nos tem habituado. Sempre com aquele estilo e naqueles ambientes (lembrem-se das suas interpretações em Finais Felizes e O Sorriso de Mona Lisa). Desta vez em francês, interpreta uma actriz Norte-Americana que se encontra a fazer a rodagem de um filme de época, na cidade de Paris. Un final desolé.

Place des Fêtes – Realização e Argumento: Oliver Schmitz
Emocionante. Bela e triste. Um homem moribundo em plena Place des Fêtes. É socorrido por Sophie uma médica recém-licenciada. Tenta ajudá-lo. Já se tinham encontrado. O final mais triste.

Pigalle – Realização e Argumento: Richard LaGravence


Porque o amor de outrora pode vir a ser o amor de amanhã. Basta agir.

Quartier de la Madeleine – Realização e Argumento: Vincenzo Natali


A história mais bizarra. A vampira que se encanta pelo voyeur mortal. Este último, acaba por ficar fascinado por ela. Ele acaba por se transformar num dos seus. Num estilo Underworld, com blood effect à la Sin City.

Pére-Lachaise – Realização e Argumento: Wes Craven

E esta hein?
O surgimento do espírito do morto (Óscar Wilde) veio salvar o espírito dos vivos.

Faubourg Saint Denis – Realização e Argumento: Tom Tykwer






Começa com um telefonema-poema de despedida. O amor não precisa de uma atracção física. Um flashback fast forward mostra-nos a história da relação. No final, o início não da curta-metragem não passou de uma rasteira. Ela é actriz a ensaiar um texto ao telefone. Ele é cego.

Quartier Latin – Realização e Argumento: Frédéric Auburtin & Gérard Depardieu



“You are full of surprises tonight”
Porque é difícil dizer o adeus official, quando há uma série de boas memórias. Funny. Surprising. Delicious.

14ème Arrondissement – Realização e Argumento: Alexander Payne


Uma turista americana visita vários sítios de Paris. Esta é a curta-metragem mais solitária. Uma simbiose de alegria e de tristeza. Porque o amor não tem necessariamente de ser dirigido a uma pessoa mas, porventura, a um lugar-comum.


quarta-feira, junho 20, 2007

The Lovebirds (2007)

Bruno de Almeida a filmar Michael Imperioli - The Lovebirds


Título Original: The Lovebirds
Realização: Bruno de Almeida
Argumento: Bruno de Almeida, John Frey
Género: Drama
Elenco: Michael Imperioli, John Ventimiglia, Drena De Niro, Joaquim de Almeida, Rogério Samora, Ana Padrão, Nick Sandow, John Frey




Seis histórias de amor com a cidade de Lisboa enquanto pano de fundo. O amor assume várias formas e é essa multiplicidade que The Lovebirds pretende tratar. Este foi um filme feito por encomenda para a abertura da 2.ª edição do Lisbon Village International Digital Cinema Festival. Um dos filmes mais aguardados do certame. A expectativa foi provocada pelo elenco composto por nomes de peso como Michael Imperioli e John Ventimiglia (série televisiva Os Sopranos).


O filme começa mal logo na abertura, com o mau enquadramento da gaivota que voa. Mau agoiro. A ausência de qualidade teima em continuar. O que é (muito) mau, para além do enquadramento inicial? A qualidade de imagem, filmagem, iluminação e até mesmo os cortes que não são naturais.


Na iluminação não há meio-termo. Predomina a ausência de iluminação. No entanto, na última cena de Michael Imperioli e Ana Padrão a iluminação surge em excesso, o que provoca um ar artificial.


O argumento pretende mostrar o amor na sua essência, ou seja, através de uma pluralidade de histórias e pessoas que não só são diferentes, como vivem este sentimento de forma diferente. Esta fórmula já havia sido bem conseguida em O Amor Acontece (Richard Curtis, 2003), contudo, em The Lovebirds tudo fica pela superficialidade. Permanece ainda a dúvida se este é um fiel retrato lisboeta.


Com um elenco de luxo The Lovebirds é a prova concreta de que bons actores não salvam filmes. Este é sem dúvida um excelente case-study de tudo o que não se deve fazer num filme, em termos técnicos.
Classificação:
0

terça-feira, junho 12, 2007

Lisbon Village Festival: o festival de cinema mais abrangente



A segunda edição do Lisbon Village Festival (LVF), o único festival de cinema digital na Europa, começou na passada quinta-feira e é composta pelas vertentes de arte, cinema e música.


O LVF estende-se a quatro espaços: o cinema São Jorge (infopoint central), o Palácio Galveias, a Fundação Portuguesa das Comunicações e o Fórum Lisboa.


O festival arrancou discretamente no passado dia 7 com a inauguração da exposição de arte de Robert De Niro Senior (pai do actor com nome homólogo). Foi esta a razão que trouxe o conhecido actor à capital, na semana passada. A exposição está disponível de terça a domingo até 8 de Julho (entrada gratuita).


As outras vertentes do Festival


O The Next Big Thing (Village Art Showcase) consiste numa exposição composta por trabalhos que as escolas de arte, têm desenvolvido projectos em torno da introdução das novas tecnologias no campo das artes plásticas. Esta exposição vai ter lugar na Fundação Portuguesa das Comunicações de 14 de Junho a 8 de Julho (de segunda a sábado).


A partir da próxima segunda-feira arranca no Cinema São Jorge o Village International D-Cinema Festival (VIDCF). A programação é composta por curtas e longas-metragens (nacionais e internacionais). Há espaço para o cinema Polaco e Japonês. É peremptório anunciar que actualmente existe apenas dois festivais de cinema digital a nível mundial. O Japão foi o pioneiro, ao que se seguiu o Lisbon Village Festival.


Quanto à programação destaque para duas obras. The Lovebirds de Bruno Almeida, um filme feito exclusivamente para o VIDCF, é o responsável pela abertura do certame. O elenco conta com actores Portugueses e Norte-Americanos, destaque para Michael Imperioli e John Ventimiglia (Sopranos), Drena De Niro, Nick Sandow e John Frey. Estes actores, assim como o realizador, vão estar presentes na sessão de abertura dia 18, às 21h30, no São Jorge. A segunda obra a receber principal destaque é I could never be your woman, o mais recente trabalho da actriz Michelle Pfieifer, realizado pela Amy Heckerling (realizadora e argumentista da série As Meninas de Beverly Hills, já transmitida pela Sic Radical) uma cortesia da Lusomundo e vai ter a sua ante-estreia nacional dentro do certame. Paralelamente ao VIDCF vai decorrer no mesmo espaço o Village Lounge, um espaço com DJ’s e música chillout.


Estão ainda programadas quatro Village Voices (sessões de conversas e actividades): Literatura e Cinema (dia 19), D-Cinema na História do Cinema (dia 20), o Digital nas Artes Plásticas (dia 21) e Cinema de Animação (dia 22). As Village Voices têm lugar nas datas marcadas, sempre às 18h00 na Fundação Portuguesa das Comunicações.


At last but not least o Fórum Lisboa, palco recentemente adquirido para o certame, vai exibir apenas duas sessões. A primeira vai ser uma homenagem ao actor Robert De Niro com o filme Novecento (dia 20 às 18h15). A segunda exibição (dia 21 às 21h45) é alusiva à história do cinema e será composta por duas obras: The Great Train Robbery e Lisboa Crónica Anedótica.

Mostra o teu génio


O LVF oferece aos estudantes a oportunidade de terem as suas curtas-metragens exibidas em sala. O autor da melhor obra será premiado com uma câmara de vídeo HDV da Sony e a sua curta será incluída na edição em DVD dos vencedores do VIDCF 2007. As inscrições devem ser feitas no cinema São Jorge até dia 22.

terça-feira, junho 05, 2007

O Tempo que Resta (2005)



Título Original: Le Temps qui reste
Realizador: François Ozon
Argumento: François Ozon
Género: Drama
Elenco: Melvil Poupaud; Jeanne Moreau, Valeria Bruni-Tedeschi

“O que faria com o tempo que lhe resta?”


Romain, tem 30 anos, é um fotógrafo bem sucedido. Começa a sentir-se doente. Uma vez que é homossexual teme ter contraído o vírus da sida. Na verdade tem um cancro. O estado é avançado e já surgiram metástases. O alerta veio tarde demais. É jovem, mas tem apenas 5% de hipóteses para vencer a doença. Resta-lhe, assim, pouco tempo de vida.


Habituado a uma vida de excessos, que lhe permitia ser arrogante, Romain acaba por sofrer uma metamorfose nos últimos tempos de vida. Esta mudança no protagonista já era de previsível. No entanto, este cliché (modelo de narrativa) resulta na perfeição.


Este drama não incidia sobre temas fáceis. Havia sérios riscos desta película ser um produto final enfadonho e suportado por clichés. Ao recorrer a cenas de curta duração o realizador torna este drama numa narrativa fluida e agradável.


Bem conseguido em termos de diálogo, iluminação, filmagem e fotografia. Um filme sobre a vida e o caminho para a morte. Uma mensagem de esperança.


Classificação:

5*

quarta-feira, maio 16, 2007

O homem grita CINEMA!



É uma cara bem conhecida de todos nós. Todos sabemos quem é o homem que se coloca frente às super-estrelas de Hollywood e desafia-as para uma breve conversa.


O tema é o mesmo de sempre: cinema. Todos nós, uns mais que outros, e tendo em conta a ocasião (refiro-me à estrela que se encontra a ser entrevistada), já invejámos o seu trabalho e desejámos (mais do que tudo) estar no seu lugar, mesmo que apenas durante aqueles escassos minutos que se destinam às flash-interviews.


Qual o porquê de escolher o Mário Augusto para este espaço? Peço a si, caro leitor que dê um breve salto até ao título desta crónica, simplesmente não arranjei melhor explicação.


Mário Augusto nasceu em Espinho, decorria o ano de 1963. Começou a sua carreira jornalística em 1985, no Comércio do Porto. Ao longo da sua carreira colaborou em variadíssimas publicações, no entanto ao tópico era sempre o mesmo… cinema.


Actualmente vê-mo-lo na SIC Notícias, com os seus semanais “35 mm” e ainda na TSF, com os comentários às estreias semanais.n Mário Augusto não só grita cinema, como acima de tudo vive intensamente aquela que é a sétima arte. Os seus olhos brilham no decorrer das entrevistas, o sorriso é genuino e as perguntas, essas, estão impregnadas de perspicácia e sinceridade. Tanto no audiovisual (televisão), como na escrita (dois livros lançados), o espírito é sempre o mesmo. A curiosidade e espontaneidade, que tão bem representam o Mário, estão sempre presentes.


Prescrevo as palavras de Cândida Pinto, jornalista da SIC e actual directora-adjunta do semanário Expresso, “É como se cada um de nós estivesse sentado naquela cadeira perante a estrela de cinema. Com uma simplicidade desarmante”.


A citação que se segue é da autoria de José Alberto Carvalho, cara bem conhecida de todos nós, conheceram-se há 20 anos e neste tempo “quase tudo no mundo mudou. O cinema e as estrelas mudaram. E o Mário está melhor, o que significa que também mudou, porque é preciso mudar para manter a curiosidade e o sorriso, genuino e satisfeito, de quem sabe que a verdadeira arte está na autenticidade. O que é difícil é ser simples. E, simplesmente, o Mário Augusto é assim”.


E é assim, que descobrimos através do seu olhar e sonhamos através dos seus sonhos, sejam eles relacionados com a cinefilia ou com o “Sorriso da Rita”.

Fonte: Mais Bastidores de Hollywood, Mário Augusto, Prime Books, 2006

A Scanner Darkly - O Homem Duplo (2006)


Título Original: A Scanner Darkly

Realização: Richard Linklater

Argumento: Philip K. Dick; Richard Linklater

Género: Animação, Thriller

Intérpretes: Keanu Reeves, Winona Ryder, Robert Downey Jr.



“Um filme sobre pessoas que foram muito castigadas pelo que fizeram” Philip K. Dick



Foi o filme mais aguardado em 2006. A estreia nacional teve lugar no IndieLisboa2007 ao mesmo tempo que, esta obra de Richard Linklater (Antes do Amanhecer), era lançada no mercado DVD.


A grande expectativa em relação a esta obra prende-se por ser um filme diferente. Como assim? A Scanner Darkly é claramente uma transgressão cinematográfica. Foi filmado e colorido por cima. Como deve ser encarado?! Depende da interpretação de cada um.


A história mostra-nos a cidade de Anaheim (Califórnia) daqui a 7 anos. As drogas estão banalizadas. Grande parte da população é viciada na Substância D. A droga em voga no momento. E a principal responsável por sérias lesões cerebrais.


Em Anaheim as autoridades ouvem as chamadas em directo. Detectam onde está a ocorrer a conexão. Minutos depois surge no ecrã uma filmagem live, de quem está a telefonar. Será esta a sociedade que queremos?


A hipocrisia e a traição marcam profundamente esta película. No seguimento os temas obrigatórios do momento: drogas e terrorismo, não demoram a invadir o ecrã.


Keanu Reeves é um homem duplo. É o traficante e o agente que investiga o traficante. Robert Downey Jr. é o excêntrico e ainda o “amigo da onça”. Winona Ryder é a namorada, a amante e ainda algo mais.


A Scanner Darkly não é um filme de animação. Mas um thriller como outro qualquer. Apesar de o factor imagem poder suscitar algumas limitações, em relação à seriedade com que encaramos esta obra, as críticas que esta apresenta devem ser levadas a sério. Feitas as contas, em quem confiar?!


O mais: As pinturas estão bem feitas e é fácil reconhecer os protagonistas. O alerta que é feito.


O menos: podia ser mais exploratório.

quarta-feira, maio 09, 2007

Inland Empire (2006)


Título Original: Inland Empire
Argumento e Realização: David Lynch
Género: Drama, Mistério
Intérpretes: Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Thereoux, Harry Dean Stanton

“It´s a story that happened yesterday, but I know it’s tomorrow”

Inland Empire é concretamente um filme sobre um filme. No entanto, o desbravar das imagens projectadas na tela revela-nos um filme sobre o medo, a inquietação e a humilhação. Através da vida de uma mulher que não tem noção do tempo e do espaço.


O drama feminino percorre, em várias vertentes, esta obra. Mostra-nos a linearidade deste universo. Confere ao filme uma dualidade de interpretações. Podemos pensar no rise and fall de uma actriz. Ou ainda no caminho tomado, caso a vida não lhe tivesse proporcionado uma carreira de sucesso.


Este filme é também a concretização da premonição que é anunciada no início. Uma premonição sem sentido, pensamos nós. Confronta-nos, ainda, com a banalização da morte. De uma forma dura e crua.


A narrativa está subjacente a duas metáforas. A primeira é um gira-discos em funcionamento. Abre o filme e torna a aparecer lá para meio da película. Para elucidar o espectador da homogeneidade do universo feminino. É um ciclo. Não há nada a fazer. A segunda metáfora é o espelho. Surge para completar a ideia anunciada na metáfora anterior.


Uma viagem à consciência? É provável. Através da viagem pelos quartos da casa. Em close-up aparece um candeeiro de forma fálica. Emite uma luz trágica. A sua explosão enche o quarto. Não com escuridão, mas com mulheres. De onde vieram? “Hey look at us and tell us you’ve seen us before”.


Com alguns bons momentos fotográficos e com uma excelente incorporação da banda sonora. A mais recente obra de Lynch é uma narrativa não linear. Recheada de planos de pormenor, revela-se uma obra única que deve ser saboreada no momento. A ser pensada, apenas no pós-sala. Compacta, dura e com alguns momentos perturbantes.

“Strange what love does”

O mais: a interpretação de Laura Dern
O menos: a qualidade da imagem

quinta-feira, maio 03, 2007

IndieLisboa 2007: o ano da consagração





A 4.ª edição do Festival de Cinema Independente (IndieLisboa) decorreu nos cinemas King, Londres, São Jorge e Fórum Lisboa, de 19 a 29 de Abril. A sessão de encerramento teve lugar sábado, no São Jorge, onde foram ainda anunciados os vencedores do certame.



Um ambiente descontraído com música ambiente e bar aberto convidava ao convívio. Trocavam-se impressões sobre as obras visionadas, a selecção deste ano, os possíveis vencedores e ainda o filme de encerramento, cortesia da Lusomundo Audiovisuais. A encerrar o festival Death of a President do realizador, britânico, Gabriel Range prometia polémica. Um ficdoc (Documentário de Ficção) sobre o assassinato de George W. Bush. No final, O Movie Slate conseguiu apurar que a obra não correspondeu às expectativas de alguns espectadores. Classificaram-na como previsível e longa, apesar de ter apenas 90 minutos de duração.



Os vencedores foram anunciados pelos júris da respectiva secção. O Júri Internacional (o mais importante do festival) atribuiu um prémio ex-aequo na categoria grande prémio de longa-metragem. As obras premiadas foram El Amarillo, do argentino Sergio Mazza e Love Conquers All, da malaia Tan Chui Mui.



De Portugal, quatro obras vencedoras. O Balaou de Gonçalo Tocha recebeu os prémios de melhor longa-metragem Portuguesa e melhor fotografia numa longa-metragem Portuguesa. Leonor Noivo conseguiu dois prémios com o seu documentário Excursão. Uma menção honrosa e ainda o Prémio Tóbis para melhor curta-metragem portuguesa. Nuno Bernardo revelou-se o melhor realizador português em curta-metragem com a obra Primeiro Voo.



A quarta premiada ligada a Portugal foi Jeanne Waltz com Pas Douce. A realizadora Suiça viveu entre 1989 e 2003 em Portugal, onde se estreou na realização. Pas Douce é a sua segunda longa-metragem. Arrecadou o prémio de distribuição. Em declarações ao Movie Slate disse que nesta obra quis abordar “o sentimento físico de estar encurralada, através do papel de uma enfermeira”. Anunciou que a temática é a mesma da longa-metragem anterior, Daqui P’rá Alegria (2003). No entanto, em Pas Douce, as personagens reagem de outra forma. “Este filme sempre foi para ser filmado lá [Suiça]. Interessou-me esta mistura de campo-cidade. E a dureza e frieza de lá”, disse Jeanne aquando a apresentação da sua obra aos espectadores, sábado, no King.



O IndieLisboa 2007 conseguiu 35.500 espectadores. Sendo a edição mais concorrida. As obras vencedoras foram novamente exibidas, domingo, nas salas que acolheram o festival.

Pas Douce






Realização e Argumento: Jeanne Waltz
Ano: 2006
Origem: França/Suiça
Género: Drama
Intérpretes: Isild Le Besco, Lio, Steven de Almeida
Prémios: Prémio de Distribuição IndieLisboa 2007

“Ouviste?! Ele disse que não sou doce…”

Fréderique (Isild Le Besco), mais conhecida como Fred, vive numa pequena cidade nas montanhas. Tem 24 anos e é enfermeira no único Hospital da cidade. Na adolescência foi campeã de tiro. Imposição do pai. Com o passar dos anos largou a competição. E largou o pai.


As rotinas que outrora adorava. Transformam-se em clausura. Só e desesperada parte para a floresta. Tenta pôr um fim à vida. Acaba por colocar em risco a vida de Marco (Steven de Almeida). Um estudante que ia a passar. A tortura aumenta. Guarda silêncio. E Fréd vira-se para uma vida de vícios.


Marco tem 13 anos. É um ser difícil de domar. Vive revoltado pela ausência da mãe. Fred é a única enfermeira que o consegue tratar. Cativa-o da mesma maneira que o Principezinho conquistou a Raposa (Antoine de Saint-Exupéry). Marco e Fred criaram laços, ficaram presos um ao outro e ela deixou de ser apenas uma enfermeira. Passou a ser a Fred, a amiga, a confidente e a salvadora. Mal imagina Marco que não foi atingido por um caçador louco, mas sim pela doce enfermeira que zela pela sua vida.


O argumento está bem construído. E as falas surgem com naturalidade. Entre a morte, o medo e a agressividade há ainda tempo para a sensualidade. A filmagem de Jeanne Waltz leva-nos ao lugar. Faz-nos testemunhar todos acontecimentos.


A magia deste filme prende-se pela construção que é feita ao mínimo detalhe. As quatro grandes personagens deste filme a Fred, o pai da Fred, o Marco e a mãe deste acabam por ser espelhos uns dos outros. Espíritos indomáveis que a sociedade insiste em domar.









sexta-feira, abril 27, 2007

Fresh Air (IndieLisboa)

Título Original: Fresh Air
Realização: Ágnes Kocsis
Argumento: Ágnes Kocsis / Andrea Roberti
Género: Ficção / Drama

Ano: 2006
Origem: Hungria
Elenco: Juli Nyakó; Izabella Hegyi; Anita Turóczi; Zoltán Kiss



Da Hungria chega-nos uma família monoparental. Viola, a mãe, trabalha na casa de banho do metropolitano. Veste-se sempre de vermelho. Ou melhor, o vermelho é presença obrigatória na sua vida. É uma funcionária exemplar. Procura o homem ideal. Actua de forma rotineira, dia após dia. Podemos descrevê-la como um robot. Chegamos a pensar que Viola não tem alma. Uma vez que já nem possui fé.
Angéla, a filha, tem 19 anos. Estuda moda. Quer ser designer. É idealista em relação ao futuro. Deseja o ar fresco italiano. É incompreendida entre pares. Na escola chegam a gozar com ela. Na memória fica a cena "O que temos hoje, aqui? Versace?!". O verde está incorporado no seu universo. As roupas são verdes. O seu espaço é decorado de verde. E até as "criações" são verdes.
O verde é a esperança. Cor que contrasta com o vermelho. Vermelho, esse, que Viola faz tanta questão de usar. Mas em Fresh Air o contraste das cores serve para elucidar o conflito das personagens. Enquanto Angéla vive na esperança e aspira ao glamour (atenção às tiras de lantejoulas que decoram as suas roupas). Viola já a perdeu [esperança]. Vive, então, confinada naquela que é a cor do sangue e do pecado. Limita-se a viver o presente.
Mãe e filha são, na verdade, meras estranhas. Co-habitam num espaço que é divido em dois: o da mãe e o da filha. No ouvido fica a pergunta que podia ser mais catchy. "Já comeste hoje?", pronunciada várias vezes por Viola. A que Angéla responde "não".
Nesta obra de Ágnes Kocsis o título, Fresh Air, é muito mais que um mero título. É este que une as personagens. Viola trabalha numa casa de banho. Vive à margem da sociedade. Conhece o "ar fresco" de cada ambientador. No fundo procura um ar melhor, para a sua vida. Angéla aparece frequentemente sentada no parapeito da janela. Respira o ar fresco da noite. Precisa dele. É o seu refúgio.
Planos longos. Planos mais curtos. Um vermelho à la Almodóvar, num filme pautado por silêncios. A banda sonora aparece em vez das falas. Cumprindo em pleno a sua missão. Um final reconciliador entre cores e, quem sabe, entendimentos.
No ouvido:
"But I'm just a soul whose intentions are good
Oh Lord, please don't let me be misunderstood" (The Animals)

domingo, abril 15, 2007

Premonição (2007)



Título Original: Premonition


Realização: Mennan Yapo


Argumento: Bill Kelly


Género: Drama/Fantasia/Mistério/Thriller


Elenco: Sandra Bullock, Julian McMahon








Sinopse:

Uma vida perfeita. O marido perfeito. A familia perfeita. O que pode agitar este cenário?

Linda Hanson (Sandra Bullock) vê a sua vida perfeita ser asolada por pesadelos. Até aqui cliché. No entanto, esses pesadelos são bem reais. Um dia acorda e recebe a notícia que o marido (Julian McMahon) faleceu. No dia seguinte acorda e ele está no banho. Volta a acordar, noutro dia, e ele está novamente morto.

Trata-se de um pesadelo ou algo mais?


Análise:

Premonição apresenta-nos uma filmagem esclarecedora. Ora centrada no detalhe ou no estado de espírito da protagonista.

O grande problema ou virtude deste filme, cabe ao espectador decidir, é o argumento. Andas às reviravoltas numa fase inicial. Acaba, posteriormente, por definir o seu rumo.

Toda a narrativa é possivel de ser explicada através do mito de Édipo.

A maldição lançada à família dos Labdácidas. "Lai se tiveres um filho. Ele matar-te-á e casará com a mãe". Assim que o bebé (Édipo) nasceu, foi mandado abandonar. O pastor que levava Édipo não quis matá-lo, nem abandoná-lo. Encontrou um mensageiro e entregou-o. Édipo foi criado pelo mensageiro.

Uma noite numa festa, um bebado disse a Édipo "Tu és o suposto filho do Rei". Mais tarde Édipo, desnorteado, encontra uns homens e furioso acaba por matar quatro deles. Continua a andar e chega a uma cidade próxima de Tebas. Depara-se com a Esfínge, um monstro, que lhe faz uma pergunta: "Qual é o animal que de manhã anda de quatro patas, à tarde de duas e à noite com três?"

Édipo decifrou o enigma. A esfínge não resistiu. O povo de Tebas considerou-o libertador. A rainha estava disponível. Fizeram-no Rei e casaram-o com Jucasta.

Mais tarde Apolo envia uma Peste pata Tebas. Qual o argumento? Há uma mancha na cidade. Ainda não foi punido o assassínio do Rei.

O Mensageiro contou depois toda a história a Édipo. Jucasta teve a intuição que tinha casado com o filho e enforcou-se. Édipo furou os olhos.


Qual o porquê de transcrever toda esta história para falar da Premonição, interpretada por Sandra Bullock?

Os pais de Édipo foram confrontados com o destino. Quiseram alterá-lo. O que é que se verificou de seguida?

O mesmo tentou fazer Sandra Bullock, ao longo de 1 hora e 45 minutos de filme.

O filme tinha uma mensagem a comunicar e conseguiu passá-la. Esta é, claramente, uma obra de relances. Com um objectivo ambicioso. Se resultou na perfeição? Nem por isso. Falhou redondamente? Também não.

As filmagens repetidas surgem no intuito de transmitir um dejá-vu.

Requer alguma ginástica mental. Fique atento aos pormenores. Roupa, rotinas e o sitio onde estão determinados objectos.

Uma narrativa sustentada por arquétipos. Uma mensagem de esperança.

"It's Never Too Late"

Classificação:

7/10

sábado, março 24, 2007

O Retrato Imaginário de Diane Arbus (2006)


Título Original: Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus

Realização: Steven Shainberg

Argumento: Erin Cressida Wilson (livro de Patricia Bosworth)

Género: Drama/ Fantasia

Intérpretes: Nicole Kidman; Robert Downey Jr.




Diane Arbus (lê-se Dee-Ann) nasceu em 1923. Filha única. Pais ricos. Casou aos 18 anos e teve duas filhas.

Começou no universo da fotografia, segundo a película de Steven Shainberg, como assistente do marido. Posteriormente, altura a que remete a acção do filme, Diane torna-se fotógrafa.

Diane tem uma relação de amor/ódio com os pêlos. Sim, leu bem, pêlos. No início livra-se deles com um olhar de ódio e contempla com desprezo as criações em pele que os pais comercializam, para a alta sociedade. No final, tudo será bem diferente.

A fotógrafa não se consegue enquadrar no ambiente. Não se identifica com o que faz e muito menos com o que a sua família faz. A curiosidade pelo novo inquilino leva-a para um universo alternativo. A máquina fotográfica acompanha-a. Contacta com aqueles que sempre sonhou fotografar. Entra na morgue. Torna-se amiga das “aberrações”.

“A minha mãe fez-me jurar que nunca ia ver um morto”

Este retrato imaginário é uma verdadeira obra-prima em termos técnicos. Premeia o espectador com um magnífico jogo de iluminação. O som é captado com uma exímia exactidão. Transmitindo algo mais ao espectador. A banda sonora é adequada. Vai ao encontro do estado de alma das personagens, assim como da respectiva evolução destas. O argumento é fraco e surge claramente como secundário. A filmagem prima pela precisão. Por momentos seguimos Diane, enquanto que noutros antecipamo-nos a ela. Há ainda momentos em que caminhamos lado a lado, como cúmplices.

Com excelentes interpretações de Nicole Kidman e Robert Downey Jr., Fur não é um simples biopic. Não maça o espectador com factos. Mostra o mundo de Diane já adulta. Abre as gavetas da infância. Acompanha a metamorfose (da inadequação à adequação). A postura, o cabelo e as roupas mudam ao longo do filme. É a sua clara ascensão.

Mais do que um retrato imaginário, Fur é um magnífico tributo a Diane Arbus.
Classificação:
8/10

quinta-feira, março 01, 2007

Semana com estreias douradas

O Labirinto do Fauno
Dreamgirls
Diário de um Escândalo




sábado, fevereiro 10, 2007

Hollywoodland (2006)



Título Original: Hollywoodland
Realização: Allen Coulter
Argumento: Paul Bernbaum
Intérpretes: Adrien Brody; Diane Lane; Ben Affleck; Bob Hoskins; Robin Tunney

«The Rise and Fall»

Foi a 16 de Junho de 1959 que as crianças Norte-Americanas de então, foram forçadas a abandonar o mito do herói, daquele que luta pelo bem e que é mais forte que toda a humanidade junta. A imprensa dava então a conhecer a morte de George Reeves (Ben Affleck), o Superhomem. «TV SUPERHERO, OUT OF WORK, KILLS SELF», é a headline do Mirror News. As crianças ficam num luto, resguardam-se no seu canto, queimam as recordações do homem de aço e dão um passo para a visão adulta. Abatido por um só tiro, a morte de Reeves deixa sérias suspeitas à mãe deste, Helen Bessolo (Lois Smith), que ao ver o processo arquivado recorre aos serviços de um detective privado, Louis Simo (Adrian Brody).

Em Hollywoodland há alguns aspectos comuns às personagens que percorrem a tela. O desespero, a desorientação, a bebida, a traição e o sexo. Estamos na passagem do preto e branco para o technicolor. A televisão começa a entrar no quotidiano das famílias norte-americanas. E Hollywood, será sempre Hollywood... a pólis dos sonhos, da ascensão, da queda, da intriga, do desejo e da traição. Luxo e aparecer são as palavras de ordem, nada passa de um engenho. Desde a primeira foto de George Reeves com Toni Mannix (Diane Lane), esposa do executivo de estúdio da MGM, Eddie Mannix (Bob Hoskins); até às fotos que Helen e Simo tiram na visita à crime scene de Reeves (repare que Simo deixa as mãos ao alcance das objectivas, sinónimo de cuidado e preocupação com Helen).

Esta produção retrata bem o universo da representação. Do início de carreira, passando pelos castings, as festas para divulgação, ao primeiro trabalho sério, até à queda. Há ainda lugar para as personagens que ficam coladas aos actores, para o resto da vida, impossibilitando-os de prosseguir outro rumo, como é o caso da estreia de “From Here To Eternity” em que a plateia aponta para a imagem de Reeves, ao mesmo tempo que murmura quase em uníssono “Superman”.

Uma história contada em dois tempos, cuja sucessão de eventos se vai misturando ao longo do filme, apelando a um índice mais elevado de atenção, por parte do espectador. Falava-lhe de dois tempos. São eles o antes e o pós-morte de Reeves.

O mais interessante da trama são as vidas dos personagens. Cada um trás uma mensagem. Desde Reeves, o Super-homem, passando pela sua noiva Leonore Lemmon (Lois Smith), a sua amante Toni Mannix, à sua mãe Helen e ainda ao detective e aos produtores da MGM. Todos trazem uma pérola, uma mensagem que nos permite decifrar o mundo de então... não muito diferente do de hoje.

Hollywood será sempre Hollywood! Mas se Hollywood é e será sempre a mesma, Ben Affleck aproveitou para mudar e presentear-nos com uma representação sensata, aquela que é até ao momento, a melhor da sua carreira.



Classificação: