quinta-feira, julho 05, 2007

A Trilogia da Morte - Gus Van Sant





Gus Van Sant é natural de Kentucky (EUA), completa 55 anos no próximo dia 24 e é um dos grandes nomes do cinema independente. Realizador de filmes com uma imagem única e argumentos marginais, onde o silêncio acaba por imperar. As suas obras são tidas como referência entre os cinéfilos. Paranoid Park, o seu mais recente trabalho, foi aplaudido pela crítica na última edição do Festival de Cannes e recebeu o Prémio do 60.º Aniversário, como forma de homenagear o trabalho desenvolvido pelo realizador no decorrer da sua carreira. A trilogia da morte é o nome dado ao conjunto de três obras de Gus Van Sant: Gerry (2002), Elephant (2003) e Last Days (2005). Cada um destes filmes tem uma vida própria. Uma vez que cada filme tem a sua história, personagens e protagonistas. Contudo, se juntarmos estas três obras conseguimos três diferentes visões da morte.

Gerry (2002)




Argumento: Casey Affleck, Matt Damon, Gus Van Sant
Género: Drama
Elenco: Casey Affleck, Matt Damon

Dois amigos, ambos de nome Gerry, param o carro no meio da estrada e começam a caminhar na direcção das montanhas. Em determinado momento alteram a rota e acabam por se perder.
A filmagem de Van Sant leva-nos ao local. Perdemo-nos juntamente com os Gerrys. Os primeiros dias são preenchidos pela esperança. Nenhum deles pensa na morte. O plano é sempre o mesmo: reconhecer as montanhas (assim como outros rochedos) e encontrar o caminho para o carro. O tempo passa e a morte acaba por desabar sobre a esperança.
Boa filmagem e captação de áudio. Aqui a morte é acidental, sendo a acção suportada pela existência de diálogos. Este é, porventura, o filme que tem mais diálogos na Trilogia da Morte. No entanto, o silêncio entre os dois amigos consegue favorecer a história, ao dar-lhe um tom de autenticidade.

Elephant (2003)



Argumento: Gus Van Sant
Género: Drama
Elenco: Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson

Nada mais banal que um vulgar dia de aulas, com a “pequena” excepção de não o ser!
Um violente incidente perturba os alunos e professores de um liceu em Portland, Oregon (EUA).
Um filme espectacular, premiado (Festival de Cannes 2003: Palma de Ouro e Melhor Realizador), que nos remete para aquilo que o liceu representa para os jovens, o que passa pela cabeça destes, elucidando-nos cada vez mais do facto de todos sermos diferentes e iguais ao mesmo tempo, passando pelo massacre no liceu do Columbine, já conhecido por vós, através do documentário de Michael Moore- Bowling for Columbine. Van Sant, consegue através da sua câmara, mostrar que todos aqueles jovens não passavam de fantasmas naquele liceu (psicologicamente já estavam todos mortos, os tiros foram apenas a consumação do acto).
Este é um filme intenso, em que o silêncio e o cenário de um liceu vazio e ténue nos remetem para uma inevitável tragédia.
Absolutamente genial, original, magnífico, prende o espectador do primeiro ao último segundo!

Last Days (2005)

Argumento: Gus Van Sant
Género: Drama
Elenco: Michael Pitt, Lukas Haas


Surge Last Days e num circundante esplendor dá-se o desfecho da trilogia, através da exploração do factor música/som como complemento e suporte para todo o desenlace do enredo. Este, é mais importante que o factor diálogo (quase inexistente), provocando ira, cólera, amargura e a sede do “doce” beijo da morte. Last Days, é muito mais que um mero biopic. Baseado nos derradeiros dias do líder exímio dos Nirvana (Kurt Cobain), Van Sant apresenta-nos Blake (Michael Pitt), o símbolo de uma geração que se apresenta “só” numa casa “cheia”, perdido num labirinto que é consequência e cliché do mundo da fama. Blake apresenta-se moribundo, já morto (a nível psicológico e espiritual), inerte numa casa impessoal e caótica, onde todos podiam entrar e desfrutar dos seus prazeres. A forma como Blake é filmado ao longo do filme, quase sempre de costas, elucida-nos da sua posição para com o mundo. O plano em que o telefone toca e Blake continua a sua rotina, é a melhor mise-en-scéne disso mesmo.É no seu secret secret spot, tão perto e ao mesmo tempo tão longe da sua casa, que Blake encontra o seu EU. Falamos da pool-house, da floresta e momentaneamente a sala de música, onde apenas se limita a viver, a expressar os seus medos e a sua raiva, sem ser confrontado. Last days, é mais que um inspirado reviver dos últimos dias de Cobain, que um labirinto cliché e obligatoire para todos aqueles que pisam o passeio da fama do Rock. Este é o fechar de um ciclo que tanto pertence a Cobain, a Blake, como ao mais comum dos mortais. Sendo o seu fecho, a soberba cena da morte de Blake. Brilhantemente captada por Van Sant e clímax do filme.

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