quarta-feira, maio 16, 2007

O homem grita CINEMA!



É uma cara bem conhecida de todos nós. Todos sabemos quem é o homem que se coloca frente às super-estrelas de Hollywood e desafia-as para uma breve conversa.


O tema é o mesmo de sempre: cinema. Todos nós, uns mais que outros, e tendo em conta a ocasião (refiro-me à estrela que se encontra a ser entrevistada), já invejámos o seu trabalho e desejámos (mais do que tudo) estar no seu lugar, mesmo que apenas durante aqueles escassos minutos que se destinam às flash-interviews.


Qual o porquê de escolher o Mário Augusto para este espaço? Peço a si, caro leitor que dê um breve salto até ao título desta crónica, simplesmente não arranjei melhor explicação.


Mário Augusto nasceu em Espinho, decorria o ano de 1963. Começou a sua carreira jornalística em 1985, no Comércio do Porto. Ao longo da sua carreira colaborou em variadíssimas publicações, no entanto ao tópico era sempre o mesmo… cinema.


Actualmente vê-mo-lo na SIC Notícias, com os seus semanais “35 mm” e ainda na TSF, com os comentários às estreias semanais.n Mário Augusto não só grita cinema, como acima de tudo vive intensamente aquela que é a sétima arte. Os seus olhos brilham no decorrer das entrevistas, o sorriso é genuino e as perguntas, essas, estão impregnadas de perspicácia e sinceridade. Tanto no audiovisual (televisão), como na escrita (dois livros lançados), o espírito é sempre o mesmo. A curiosidade e espontaneidade, que tão bem representam o Mário, estão sempre presentes.


Prescrevo as palavras de Cândida Pinto, jornalista da SIC e actual directora-adjunta do semanário Expresso, “É como se cada um de nós estivesse sentado naquela cadeira perante a estrela de cinema. Com uma simplicidade desarmante”.


A citação que se segue é da autoria de José Alberto Carvalho, cara bem conhecida de todos nós, conheceram-se há 20 anos e neste tempo “quase tudo no mundo mudou. O cinema e as estrelas mudaram. E o Mário está melhor, o que significa que também mudou, porque é preciso mudar para manter a curiosidade e o sorriso, genuino e satisfeito, de quem sabe que a verdadeira arte está na autenticidade. O que é difícil é ser simples. E, simplesmente, o Mário Augusto é assim”.


E é assim, que descobrimos através do seu olhar e sonhamos através dos seus sonhos, sejam eles relacionados com a cinefilia ou com o “Sorriso da Rita”.

Fonte: Mais Bastidores de Hollywood, Mário Augusto, Prime Books, 2006

A Scanner Darkly - O Homem Duplo (2006)


Título Original: A Scanner Darkly

Realização: Richard Linklater

Argumento: Philip K. Dick; Richard Linklater

Género: Animação, Thriller

Intérpretes: Keanu Reeves, Winona Ryder, Robert Downey Jr.



“Um filme sobre pessoas que foram muito castigadas pelo que fizeram” Philip K. Dick



Foi o filme mais aguardado em 2006. A estreia nacional teve lugar no IndieLisboa2007 ao mesmo tempo que, esta obra de Richard Linklater (Antes do Amanhecer), era lançada no mercado DVD.


A grande expectativa em relação a esta obra prende-se por ser um filme diferente. Como assim? A Scanner Darkly é claramente uma transgressão cinematográfica. Foi filmado e colorido por cima. Como deve ser encarado?! Depende da interpretação de cada um.


A história mostra-nos a cidade de Anaheim (Califórnia) daqui a 7 anos. As drogas estão banalizadas. Grande parte da população é viciada na Substância D. A droga em voga no momento. E a principal responsável por sérias lesões cerebrais.


Em Anaheim as autoridades ouvem as chamadas em directo. Detectam onde está a ocorrer a conexão. Minutos depois surge no ecrã uma filmagem live, de quem está a telefonar. Será esta a sociedade que queremos?


A hipocrisia e a traição marcam profundamente esta película. No seguimento os temas obrigatórios do momento: drogas e terrorismo, não demoram a invadir o ecrã.


Keanu Reeves é um homem duplo. É o traficante e o agente que investiga o traficante. Robert Downey Jr. é o excêntrico e ainda o “amigo da onça”. Winona Ryder é a namorada, a amante e ainda algo mais.


A Scanner Darkly não é um filme de animação. Mas um thriller como outro qualquer. Apesar de o factor imagem poder suscitar algumas limitações, em relação à seriedade com que encaramos esta obra, as críticas que esta apresenta devem ser levadas a sério. Feitas as contas, em quem confiar?!


O mais: As pinturas estão bem feitas e é fácil reconhecer os protagonistas. O alerta que é feito.


O menos: podia ser mais exploratório.

quarta-feira, maio 09, 2007

Inland Empire (2006)


Título Original: Inland Empire
Argumento e Realização: David Lynch
Género: Drama, Mistério
Intérpretes: Laura Dern, Jeremy Irons, Justin Thereoux, Harry Dean Stanton

“It´s a story that happened yesterday, but I know it’s tomorrow”

Inland Empire é concretamente um filme sobre um filme. No entanto, o desbravar das imagens projectadas na tela revela-nos um filme sobre o medo, a inquietação e a humilhação. Através da vida de uma mulher que não tem noção do tempo e do espaço.


O drama feminino percorre, em várias vertentes, esta obra. Mostra-nos a linearidade deste universo. Confere ao filme uma dualidade de interpretações. Podemos pensar no rise and fall de uma actriz. Ou ainda no caminho tomado, caso a vida não lhe tivesse proporcionado uma carreira de sucesso.


Este filme é também a concretização da premonição que é anunciada no início. Uma premonição sem sentido, pensamos nós. Confronta-nos, ainda, com a banalização da morte. De uma forma dura e crua.


A narrativa está subjacente a duas metáforas. A primeira é um gira-discos em funcionamento. Abre o filme e torna a aparecer lá para meio da película. Para elucidar o espectador da homogeneidade do universo feminino. É um ciclo. Não há nada a fazer. A segunda metáfora é o espelho. Surge para completar a ideia anunciada na metáfora anterior.


Uma viagem à consciência? É provável. Através da viagem pelos quartos da casa. Em close-up aparece um candeeiro de forma fálica. Emite uma luz trágica. A sua explosão enche o quarto. Não com escuridão, mas com mulheres. De onde vieram? “Hey look at us and tell us you’ve seen us before”.


Com alguns bons momentos fotográficos e com uma excelente incorporação da banda sonora. A mais recente obra de Lynch é uma narrativa não linear. Recheada de planos de pormenor, revela-se uma obra única que deve ser saboreada no momento. A ser pensada, apenas no pós-sala. Compacta, dura e com alguns momentos perturbantes.

“Strange what love does”

O mais: a interpretação de Laura Dern
O menos: a qualidade da imagem

quinta-feira, maio 03, 2007

IndieLisboa 2007: o ano da consagração





A 4.ª edição do Festival de Cinema Independente (IndieLisboa) decorreu nos cinemas King, Londres, São Jorge e Fórum Lisboa, de 19 a 29 de Abril. A sessão de encerramento teve lugar sábado, no São Jorge, onde foram ainda anunciados os vencedores do certame.



Um ambiente descontraído com música ambiente e bar aberto convidava ao convívio. Trocavam-se impressões sobre as obras visionadas, a selecção deste ano, os possíveis vencedores e ainda o filme de encerramento, cortesia da Lusomundo Audiovisuais. A encerrar o festival Death of a President do realizador, britânico, Gabriel Range prometia polémica. Um ficdoc (Documentário de Ficção) sobre o assassinato de George W. Bush. No final, O Movie Slate conseguiu apurar que a obra não correspondeu às expectativas de alguns espectadores. Classificaram-na como previsível e longa, apesar de ter apenas 90 minutos de duração.



Os vencedores foram anunciados pelos júris da respectiva secção. O Júri Internacional (o mais importante do festival) atribuiu um prémio ex-aequo na categoria grande prémio de longa-metragem. As obras premiadas foram El Amarillo, do argentino Sergio Mazza e Love Conquers All, da malaia Tan Chui Mui.



De Portugal, quatro obras vencedoras. O Balaou de Gonçalo Tocha recebeu os prémios de melhor longa-metragem Portuguesa e melhor fotografia numa longa-metragem Portuguesa. Leonor Noivo conseguiu dois prémios com o seu documentário Excursão. Uma menção honrosa e ainda o Prémio Tóbis para melhor curta-metragem portuguesa. Nuno Bernardo revelou-se o melhor realizador português em curta-metragem com a obra Primeiro Voo.



A quarta premiada ligada a Portugal foi Jeanne Waltz com Pas Douce. A realizadora Suiça viveu entre 1989 e 2003 em Portugal, onde se estreou na realização. Pas Douce é a sua segunda longa-metragem. Arrecadou o prémio de distribuição. Em declarações ao Movie Slate disse que nesta obra quis abordar “o sentimento físico de estar encurralada, através do papel de uma enfermeira”. Anunciou que a temática é a mesma da longa-metragem anterior, Daqui P’rá Alegria (2003). No entanto, em Pas Douce, as personagens reagem de outra forma. “Este filme sempre foi para ser filmado lá [Suiça]. Interessou-me esta mistura de campo-cidade. E a dureza e frieza de lá”, disse Jeanne aquando a apresentação da sua obra aos espectadores, sábado, no King.



O IndieLisboa 2007 conseguiu 35.500 espectadores. Sendo a edição mais concorrida. As obras vencedoras foram novamente exibidas, domingo, nas salas que acolheram o festival.

Pas Douce






Realização e Argumento: Jeanne Waltz
Ano: 2006
Origem: França/Suiça
Género: Drama
Intérpretes: Isild Le Besco, Lio, Steven de Almeida
Prémios: Prémio de Distribuição IndieLisboa 2007

“Ouviste?! Ele disse que não sou doce…”

Fréderique (Isild Le Besco), mais conhecida como Fred, vive numa pequena cidade nas montanhas. Tem 24 anos e é enfermeira no único Hospital da cidade. Na adolescência foi campeã de tiro. Imposição do pai. Com o passar dos anos largou a competição. E largou o pai.


As rotinas que outrora adorava. Transformam-se em clausura. Só e desesperada parte para a floresta. Tenta pôr um fim à vida. Acaba por colocar em risco a vida de Marco (Steven de Almeida). Um estudante que ia a passar. A tortura aumenta. Guarda silêncio. E Fréd vira-se para uma vida de vícios.


Marco tem 13 anos. É um ser difícil de domar. Vive revoltado pela ausência da mãe. Fred é a única enfermeira que o consegue tratar. Cativa-o da mesma maneira que o Principezinho conquistou a Raposa (Antoine de Saint-Exupéry). Marco e Fred criaram laços, ficaram presos um ao outro e ela deixou de ser apenas uma enfermeira. Passou a ser a Fred, a amiga, a confidente e a salvadora. Mal imagina Marco que não foi atingido por um caçador louco, mas sim pela doce enfermeira que zela pela sua vida.


O argumento está bem construído. E as falas surgem com naturalidade. Entre a morte, o medo e a agressividade há ainda tempo para a sensualidade. A filmagem de Jeanne Waltz leva-nos ao lugar. Faz-nos testemunhar todos acontecimentos.


A magia deste filme prende-se pela construção que é feita ao mínimo detalhe. As quatro grandes personagens deste filme a Fred, o pai da Fred, o Marco e a mãe deste acabam por ser espelhos uns dos outros. Espíritos indomáveis que a sociedade insiste em domar.