quinta-feira, março 12, 2009

Gran Torino




Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um amargurado ex-veterano de guerra. Vive sozinho. Perdeu recentemente a mulher e evita, ao máximo, o contacto com a família. O bairro onde viveu uma vida mudou drasticamente ao longo das décadas. As típicas famílias americanas com que conviveu mudaram-se e deram lugar à comunidade asiática. Todos saíram. Todos, menos ele. Consequência directa da teimosia que lhe marca o espírito.
Kowalski já perdeu tudo. Bem, quase tudo. Afinal ainda lhe resta a casa, o cão, as ferramentas e o seu precioso Ford Gran Torino de 1972, o carro que montou com as suas próprias mãos quando trabalhava na fábrica da Ford.
Gosta de passar os dias sentado no alpendre, com o cão ao lado e uma cerveja na mão. Senta-se olha em redor e sente desdém pelo que vê. Repugna-lhe a atitude dos jovens e o facto de estar rodeado de asiáticos. A bandeira americana hasteada na fachada da casa é o seu exaltado grito patriótico.
Uma noite o miúdo que vive na casa ao lado invade a propriedade de Kowalski para roubar o Gran Torino, como rito de iniciação num gangue. Apercebe-se da presença do jovem e não tarda a mostrar a sua carabina. A operação fica sem efeito. O ódio cresce ainda mais. Mas, o destino decide pregar-lhe uma partida e Kowalski vai passar a ver os “bárbaros”, como lhes chama em determinado ponto da história, com outros olhos.
Gran Torino é muito mais do que uma história sobre um carro antigo, as diferenças culturais entre dois povos ou sobre a crescente vaga de criminalidade nos meios urbanos. É a história de um homem viúvo, marcado pela guerra, abandonado pela família e socialmente alheado. Walt Kowalski é a representação de uma geração. A geração dos bravos cujas forças já se esgotaram. A dos sonhos vencidos. A dos despejados para um retiro, porque os filhos não querem responsabilidades acrescidas.
Aos 53 anos de carreira (78 de vida), Clint Eastwood continua a prender os espectadores ao ecrã. O rosto duro e enfurecido já mostra um inabalável cansaço. Há, até mesmo, quem aposte que este pode ser o último projecto em frente das cameras.  Recentemente premiado em Cannes (apesar de o certame decorrer só em Maio), o homem dos westerns tenta a todo o custo aproveitar o tempo que lhe resta para deixar uma marca, ainda mais profunda, na sétima-arte.
Actor quase toda uma vida, realizador tardio. Verdade seja dita, move-se bem à frente e atrás das cameras. Volta a repetir a proeza de Million Dollar Baby – Sonhos Vencidos, ao desempenhar em simultâneo as funções de actor e realizador. Para além das poucas diferenças existentes entre Kowalski e o treinador de Sonhos Vencidos.
Em termos narrativos Gran Torino está longe de ter o impacto de Sonhos Vencidos ou até mesmo do seu mais recente A Troca. Contudo, e uma vez que a América está em mudança, esta pode ser a estratégia escolhida pelo realizador para veicular uma mensagem política. O mesmo aconteceu recentemente com Milk, de Gus Van Sant.
Notável em termos técnicos, nomeadamente na fotografia dirigida por Tom Stern (Beleza Americana e A Troca) e na excelente transição que é feita entre planos.
Nos Estados Unidos, Gran Torino passou por um fenómeno diferente do habitual. Começou por estrear num baixo número de salas e apenas à terceira semana é que teve a merecida distribuição nacional. A história de entre-ajunta entre o ex-veterano de guerra e os vizinhos asiáticos passou de imediato a liderar a tabela dos filmes mais vistos, na terra do tio Sam.
Clint Eastwood mostra em Gran Torino que, afinal, é possível fazer um grande filme sem recorrer a vedetas ou argumentos megalómanos. 

Ficha Técnica
Título Original: Gran Torino
Realizador: Clint Eastwood
Género: Drama
Elenco: Clint Eastwood, Christopher Carley, Ben Vang e Ahney Her


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